top of page

Do que fala o documentário lançado pela Netflix “O dilema das redes sociais”?

  • Foto do escritor: Mirella Bravo
    Mirella Bravo
  • 8 de set. de 2021
  • 5 min de leitura

Se você alguma vez na vida acessou alguma informação utilizando uma conexão de internet, você precisa ler esse artigo. Quando fui assistir a esse documentário, eu achava que conhecia um pouco sobre o assunto. Mas constatei que é muita coisa que acontece e que a gente não se dá conta. Não consegui ver o filme inteiro de uma só vez, direto. Precisei pausar, voltar, ouvir de novo, anotar.

 


O mais interessante das informações, na minha avaliação, é que as pessoas que falam no documentário são os criadores de diversas funcionalidades e da própria estrutura das redes sociais, como o botão de curtir, as formas de monetização, os algorítmos e etc. Pessoas que, de dentro da indústria de tecnologia, perceberam que a intenção inicial de interligar pessoas de várias partes do mundo se perdeu para a enorme capacidade de venda - de coisas, serviços e ideias - possibilitada pela manipulação dos dados feitas em velocidade disruptiva por suas criações.

O primeiro ponto que me chamou a atenção foi a produção de modelos que prevêem nossas ações, porque tudo o que fazemos on line está sendo somado a um banco de dados gigantesco acumulado durante a vida, que servirá para máquinas inteligentes criarem atrativos que nos mantém vidrados nas mensagens, dentro de um contínuo de monitoramento; medição; alinhamento; ofertas de produtos, serviços e ideias; mais monitoramento; mais medição e assim por diante.


O documentário apresenta que impera o que muitos vêm chamando de capitalismo de vigilância, baseado no rastreamento persistente de tudo o que fazemos e até sentimos. A questão é que não pagamos por nada disso. Somos guiados “gratuitamente” ao mundo maravilhoso de coisas e comportamentos que parece que precisamos ter e ser. E aí vem a frase que creio ser central no dilema das redes sociais: “Quando você não paga pelo produto, você é o produto”.


O que esse negócio faz? Negocia-se o futuro de humanos. E isso é feito em escala. Nós não vendemos nossos dados. Na verdade, nem nos damos conta que estamos cedendo todos os esses dados. As indústrias de tecnologia, criadoras de plataformas digitais, constroem modelos que prevêem nossas ações e isso possibilita vender certeza, inclusive garantir metas de engajamento, aumento do tempo de uso, manutenção da conexão e crescimento de seguidores.


A roda gira permanentemente, dentro das nossas casas, no trabalho, na escola e naquele tempo que parece ser livre, em que estamos entediados, que relaxamos olhando as mensagens, rolando o feed e vendo as propagandas nos circulando todo o tempo e as empresas ganhando cada vez mais dinheiro. Estamos mergulhados na manipulação das redes, formando uma nova cultura, ou seja, uma nova forma de viver.


Não por acaso cresce o número de adolescentes que buscam as cirurgias plásticas para garantir que seus rostos fiquem tão bonitos nas selfies quanto as imagens que eles conseguem capturar e mudar pela aplicação de filtros do Instagram. Da mesma forma, que cresce aqueles que nunca tiveram qualquer tipo de relacionamento amoroso presencial. Eles estão vivendo cada vez menos o mundo real e medo da frustração é uma constante.

Até aqui, eu já estava satisfatoriamente assustada. Entendi e me vi naqueles personagens representados no documentário. Colocaram uma família com filhos adolescentes para ilustrar a fala dos especialistas e criadores de diversas funcionalidades das redes sociais, resumidas como uma tecnologia persuasiva criada intencionalmente para gerar comportamento. Uma programação em um nível mais fundo dos seres humanos ao redor do globo.


Isso porque quando damos um comando nos aplicativos das redes sociais, na verdade estamos obedecendo a estímulos persistentes da máquina inteligente, que provoca em nós determinadas reações. Elas agem dentro das mentes das pessoas. Explora-se parte da natureza humana para capturar dados pessoais dia e noite. Em resumo, ficou claro e foi dito que as empresas de tecnologia podem afetar o comportamento do mundo real e das emoções, sem nunca despertar a consciência dos usuários. Isso é muito agressivo e perigoso.


Estamos expostos a uma simulação que explora a vulnerabilidade do psicológico humano. Sim. Estão testando conosco quais as ações frente a determinados comandos e acumulando dados relacionados a isso, que serão utilizados para montar mapas de venda de coisas e de ideias. De novo: “Quando você não paga pelo produto. Você é um produto”.

A tecnologia, nesse sentido, que tanto poderia promover o bem, ameaça a existência. Pois ela pode despertar o pior da sociedade. E o pior sociedade é uma ameaça existencial. Daí o alerta para as máquinas de fake news e a existência de enormes ecossistemas de desinformação, que estão sendo usados por diversos grupos políticos para desestabilizar democracias em torno do mundo. E os especialistas do documentário chegam a falar em guerra civil.


Eu tenho mais de 40 anos. Vivi o antes e o atual da tecnologia. Vi surgir a internet e as redes sociais. Vivi a época que existia intervalo para as propagandas. Minhas filhas não. Vejo a impaciência ao ver TV aberta e ter que esperar o tempo da propaganda. Elas não percebem que, quando não há o intervalo, a propaganda está dentro do programa. E é uma propaganda que envolve não apenas produtos, mas modelos ideais de vida, de desejos, de escolhas, de comportamento.


Nesse ponto, surgem as seguintes perguntas: E as próximas gerações? Quando se acorda da simulação quando não se sabe que está nela? O fala dos especialistas no documentário é de que esse modelo de negócio precisa ser banido, tal qual já foram banidos a venda de órgãos e de escravos. Porque agora todos nós estamos à venda.

Mensagem final: aqueles que desenvolveram as redes sociais se deram conta que os próprios produtores perderam o controle do que isso se tornou. Mas que é possível rever os maus resultados provocados e tentar mudar, modificar de forma que não se submetam os seres humanos a um modelo de captura de atenção que é, na essência, corrosivo.


No final, os especialistas passam várias dicas de como se comportar. Um delas é essencial. Pare agora e desligue todas as notificações dos seus aplicativos. Domine a máquina. Não se deixe dominar por ela. É o primeiro passo. E as outras dicas? Vale a pena ver todo o documentário e chegar ao final para conhecê-las.


Por que eu resolvi escrever esse texto? Por que precisamos mudar o mundo. Se cada um criar um alerta, escrever um post falando disso, compartilhar esse artigo e outras informações que combatam a lógica imposta, no sentido mesmo de contra-informação, estamos fazendo alguma coisa na direção de um mundo melhor. Mesmo com as notificações desligadas, em algum momento, alguém vai ler, vai pensar, vai refletir, vai falar com um amigo, com os familiares. Eu já estou falando com você.


Mirella Bravo é jornalista, mestre em Comunicação, professora universitária, formanda de Direito, pós-graduanda em Direito Digital e fascinada por aprender sempre.



Link do artigo:

https://www.linkedin.com/pulse/do-que-fala-o-document%C3%A1rio-lan%C3%A7ado-pela-netflix-dilema-mirella-bravo/?published=t



Comments


bottom of page